quarta-feira, 16 de março de 2011

Vaidade


 
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Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

Florbela Espanca

domingo, 13 de março de 2011

Lágrimas Ocultas




Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severa
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

                                        Florbela Espanca

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quarta-feira, 9 de março de 2011

EU...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada...a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

                                           Florbela Espanca
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Venho me perguntando o que me faz gostar tanto de seus poemas...vejo sempre uma alma triste e angustiada em seu escritos, extremamente feminina e apaixonada... que busca  encontrar um significado para sua existência...dar significado a sua vida...questionamento que me faço também..com .mais  leveza? Talvez!...vivo em outro tempo, em que o papel feminino encontra-se um pouco mais livre... mesmo assim sufoco minha alma poética que liberto entrando em seu universo...











me apenas...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso d'alto pensamento!
E puro como um ritmo d'oração!
- E sei; depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que mito!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

                                     Florbela Espanca
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O que me tortura? O que me sufoca? As palavras fogem de meus pensamentos diante do papel em branco, como se assim fosse minha história...apenas páginas em branco!

domingo, 6 de março de 2011

Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

                       Florbela Espanca
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Esta semana postarei alguns poemas de Florbela Espanca retirados do livro Poesia de Florbela Espanca, v.1/ Florbela de Alma da Conceição Espanca - Porto Alegre: L&PM, 2010. Poetisa portuguesa, com alma sensível, escreveu sobre o amor, sentimento contraditório que nos deixa feliz e profundamente angustiado, seu tema predileto nos poemas que compõe esta obra.

sábado, 5 de março de 2011

Numa gravura de leão chinesa

 













Os maus temem tuas garras.
Os bons se alegram de tua graça.
Algo assim
Gostaria de ouvir
Do meu verso
                                Bertolt Brecht

Os poemas postados de Bertolt Brecht, foram retirados do livro: Brecht, Bertolt. Poemas 1913 - 1936; seleção e tradução de Paulo César de Souza - São Paulo; Ed. 34, 2000. 


quinta-feira, 3 de março de 2011

O Escritor sente-se traído por um amigo

O que a criança sente, quando a mãe vai com um estranho.
O que o carpinteiro sente quando lhe vem a vertigem, o final da idade.
O que o pintor sente, quando o modelo não mais aparece e o quadro está inacabado.
O que o físico sente, quando descobre o erro bem adiante na cadeia de experiências.
O piloto sente, quando sobre as montanhas cai a pressão do óleo.
O que o avião, sentisse, sente, quando o piloto guia bêbado.

                                                                                             Bertolt Brecht

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lendo Horácio

Mesmo o dilúvio
Não durou eternamente,
Veio o momento em que
As águas negras baixaram,
Sim, mas quão poucos
Sobreviveram!

            Bertolt Brecht

     Sempre tive um lema "Tudo Passa" seja bom ou ruim as coisas vem e vão...Quando boas deixam saudades, um gostinho de quero mais, um sorriso maroto nos lábios, olhos brilhantes, a vontade de viver....Quando ruins fica o gosto amargo na boca, a vontade de esquecer, mas quando "as águas negras abaixam" tudo fica nítido, percebemos o aprendizado, o quanto foi importante essa passagem...dolorida? sim! mas fundamental para o nosso crescimento, amadurecimento emocional tão desejado e que só os que são profundamente humanos conseguem atingir e entender...então vem a vontade não só do viver mas de ser intenso! 
                  

terça-feira, 1 de março de 2011

Prazeres

A primeira olhada pela janela de manhã
O velho livro de novo encontrado
Rostos entusiasmados
Neve, a mudança das estações
O jornal
O cão
A dialética
Tomar banho, nadar
Velha música
Sapato confortável
Perceber
Nova música
Escrever, plantar
Viajar
Cantar
Ser amigo.

Bertolt Brechet

O nascimento

Hoje início um novo caminho literário, sem pretenção alguma, busco escrever sentimentos que despertaram em mim a partir de textos lidos e relidos, experiências literárias vividas em outras vidas registradas nos livros, personagens tão reais que confundem-se comigo. Sou eu...sou aquele...sou a alma que passeia nos mais diferentes universos...são palavras que segredam quem eu fui...quem eu sou...são autores que me conheceram antes de mim. Trechos de livros, poemas, contos e fragmentos literários que refletem o meu ser.

Sandra