quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Formalística

Adélia Prado


O poeta cerebral tomou café sem acúcar
e foi pro gabinete concentrar-se.
Seu lápis é um bisturi
                que ele afia na pedra,
na pedra calcinada das palavras,
imagem que elegeu porque ama a dificuldade,
                    o  efeito respeitoso que produz
                                  seu trato com o dicionário.
Faz três horas já que estuma as musas.
O dia arde. Seu prepúcio coça.
Daqui a pouco começam a fosforecer coisas no mato.
A serva de Deus sai de sua cela à noite
                                 e caminha na estrada,
passeia porque Deus quis passear
                                                   e ela caimha.
O jovem poeta,
              fedendo a suicídio e glória,
rouba de todos nós e nem assina:
                'Deus é impecável.'
As rãs pulam sobressaltadas
             e o pelejador não entende,
quer escrever as coisas com as plavras.