terça-feira, 27 de dezembro de 2011

POEMA DE NATAL

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje à noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A música Das almas

Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa alma
E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangularam a terra...
Depois veio a claridade, os grandes céus, a paz dos campos...
Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto
Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.

Vinícius de Moraes

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Provocação de Lord Harry

" Um grande poeta, um verdadeiro grande poeta, é a criatura mais sem poesia de todas. Mas os poetas inferiores são de fato fascinantes. Quanto piores forem as suas rimas, mais pitorescos eles serão.[...]Ele vive a poesia que não consegue escrever. Os outros escrevem a poesia que não ousam empreender." 

O Retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde