quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Consciência do Coração

"Falar com o coração significa compartilhar de forma espontânea e livre, sem escolher ou planejar as palavras, nem censurar as emoções que surgem do subconsciente, liberando lembranças e feridas ali armazenadas. Criam-se assim condições para o afloramento de aspectos ocultos do ser e a revelação da sabedoria inata por meio de insights e intuições, em um verdadeiro processo de cura sutil. É o próprio espírito que se comunica pela voz interior e desvela aquilo que foi reprimido ou ocultado pela censura da mente consciente."
Mirella Faur

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A MORTE

A morte vem de longe
do fundo dos céus
vem para os meus olhos
virá para os teus
desce das estrelas
das brancas estrelas
as loucas estrelas
trânsfugas de Deus
chega impressentida
nunca inesperada
ela que é na vida
a grande esperada!
A deseperada
do amor fraticida
dos homens, ai! dos homens
que matam a morte
por medo da vida.


Vinícius de Moraes

domingo, 8 de julho de 2012

TERNURA

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos,
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exagero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.


Vinícius de Moraes

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Formalística

Adélia Prado


O poeta cerebral tomou café sem acúcar
e foi pro gabinete concentrar-se.
Seu lápis é um bisturi
                que ele afia na pedra,
na pedra calcinada das palavras,
imagem que elegeu porque ama a dificuldade,
                    o  efeito respeitoso que produz
                                  seu trato com o dicionário.
Faz três horas já que estuma as musas.
O dia arde. Seu prepúcio coça.
Daqui a pouco começam a fosforecer coisas no mato.
A serva de Deus sai de sua cela à noite
                                 e caminha na estrada,
passeia porque Deus quis passear
                                                   e ela caimha.
O jovem poeta,
              fedendo a suicídio e glória,
rouba de todos nós e nem assina:
                'Deus é impecável.'
As rãs pulam sobressaltadas
             e o pelejador não entende,
quer escrever as coisas com as plavras.

sábado, 31 de março de 2012

Clarice Lispector

"E na minha grande dilatação, eu estava no deserto. Como te explicar? eu estava no deserto como nunca estive. Era um deserto que me chamava como um cântico monótono e remoto chama. Eu estava sendo seduzida. E ia para essa loucura promissora. Mas meu medo não era o de quem estivesse indo para a loucura, e sim para uma verdade - meu medo era o de ter uma verdade que eu viesse a não querer, uma verdade infamante que me fizesse rastejar e ser do nível da barata. Meus primeiros contatos com as verdades sempre me difamaram."

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ainda Clarice...

" E na minha grande dilatação, eu estava no deserto. Como te explicar? eu estava no deserto como nunca estive. Era um deserto que me chamava como o cântico monótono e remoto chama. Eu estava sendo seduzida. E ia para essa loucura promissora. Mas meu medo não era o de quem estivesse indo para a loucura, e sim para uma verdade - meu medo era o de ter uma verdade que eu viesse a não querer, uma verdade infamante que me fizesse rastejar e ser do nível da barata."

domingo, 25 de março de 2012

Clarice Lispector

"Dá-me a tua mão desconhecida, que a vida está me doendo, e não sei como falar - a realidade é delicada demais, só a realidade é delicada, minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas."